Porque não interroga nem se espanta

O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta...

Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas no prados
Nem mudaria qualquer coisa no sol de modo a ele ficar mais belo...

(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol...

Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)
.

Alberto Caeiro in Poemas, Ed. Ática

3 comentários:

Escrevente disse...

Nestes tempos de excessos verbais, é de saudar a rebeldia de sugerir este poema do Pessoa a ilustrar o Dia da Poesia!
:)

io disse...

Brutal Caeiro!

Beijo minha querida doce

antuérpia disse...

Zezinha - Bem-haja pela amável observação. Há em Caeiro aquela exacta contenção de palavras que nos desperta e serena a um tempo, não é?

Io - É, minha querida. Ele... do fundo da estante para a superfície da alma. Tantas vezes. bjss