De mergulho na escola pública XII

Ainda frequentei, no tempo de M. Caetano, em S. João do Estoril, uma turma de 3ª e 4ª classe em simultâneo, num total de 40 alunas. Era o espírito do mealheiro a ditar as suas regras e nós, pois claro, só pode ser, há uma guerra no ultramar que gasta muito dinheiro e recursos humanos, há uma censura que impede que se diga o que não estão bem, portanto, aprendem os que aprenderem e os que não aprendem logo se vê.

Depois do 25 de Abril, as turmas continuaram imensas. Colectivos de trinta alunos era comum.E quem aprendesse, aprendia, quem não aprendesse, depois se via (rimou de propósito).

E a coisa foi correndo, supostamente em direcção a uma escola mais inclusiva e à «progressiva degradação da qualidade de ensino» - o que é uma expressão notável, porque parece dizer que alguma vez foi boa, o que não é verdade, porque se o tivesse sido, a qualidade intelectual média do país seria muito superior à que sempre foi e é, mas adiante.

Com o 1º Governo Sócrates, a mulher dos lábios finos - nos livros de Enid Blyton havia sempre um preconceito contra as pessoas de lábios finos e eu cresci a lê-los - lembrou-se de dizer que os professores não prestavam. Era verdade. Mas só alguns. Também há ministros que não prestam. É uma fatalidade. Todavia, ela não distinguiu e o povo saiu à rua, sem «a alegria que costumava ter», expressando (agora já podia) que a ministra não prestava.

Neste presta, não presta, caiu a educação na depressão. Quer dizer, os professores, os pais e a opinião pública, que a criançada quer mesmo é fugir por entre os intervalos da chuva, leia-se, que se lhes exija o mínimo possível (mas eles não têm de pensar, por ora).

Acabou por surgir (finalmente!) a questão da redução do número de alunos por turma. Acho que nunca o disse neste blogue, mas antes do movimento ser criado, eu já estava com ele, mesmo que nem tenha aderido, por distracção.

É claro que é uma utopia. E as utopias morrem também e, quantas vezes, por falta de dinheiro. Quanto mais uma assim e numa altura destas. Siga-se, portanto, em frente que se nem no Governo de Guterres, que foi um bodo aos pobres, as turmas passaram para 22 alunos, iriam passar agora?

Acresce que até parece que temos até um rácio alunos/professor melhor que a média da OCDE (disse o Público de ontem) Mas, ponto um, há sempre números para provar tudo e o seu contrário e, ponto dois, que me interessam esses ou quaisquer outros números provando seja o que for? Há alguma dúvida que um professor domina e lecciona melhor uma turma de 15 alunos do que uma de 30?

Não há verba (nem vou usar de demagogias, género, mas há para o TGV do Poceirão), não há verba. Estamos conversados. Mas como é que pode não ser considerada, nem pelo Governo, nem pelo PSD «uma medida central»?

Não se trata de defesa dos professores - que a professora de inglês do meu filho é tão preguiçosa para ver testes de 27 alunos (cancelou o último teste porque com tantos feriados e pontes não era justo para as crianças terem de prestar aquela prova, imagine-se!!) como o havia de ser para 15, mas isso teria de ser visto noutra sede - é, tão só, uma questão de lógica e sensatez.

Entendamo-nos, há que optar: ou queremos uma «escola inclusiva» e as turmas pequenas são uma prioridade ; ou temos (independentemente de querermos) uma «escola exclusiva», de elites, apostando apenas nas crianças cujos pais colmatam, em casa ou com explicações extra, o que elas não aprendem na escola (e em mais uns tantos que vencem mesmo no deserto) e, de facto, a dimensão das turmas é indiferente.

3 comentários:

io disse...

Esplêndida nova cara! Gosto muito, muito, muito.

Quanto à escola pública, só te digo de experiência própria, que se calhar não vai tão mal como a privada.

Mas isto não é uma afirmação desculpante dos crassos erros e asneiras que vêm a ser cometidos no ensino.

E olha lá: o que é que tu tens contra mulheres de lábios finos? Humpf! Eu queria-os carnudos, mas ao contrário do sorriso, os lábios não se treina. ;-)

Beijos grande e o que eu gosto do layout! Maravilhoso!

antuérpia disse...

:)) Bem-hajas, minha querida. Eu também acho giro.

Ah...claro. Tão má a pública como a privada - aliás, o racio professor/aluno nas escolas privadas é bem pior que o das escolas públicas.
Mas a questão aqui não é essa. A diferença é que, ao invés da escola pública, a privada não tem a pretensão de ser inclusiva.
A escola pública é uma «res» pública, é paga pelos pais dos meninos ricos e dos meninos pobres e deveria, portanto, assegurar a igualdade de oportunidades.
Será que é muito difícil intuir, para os governantes, que turmas grandes não servem um modelo de escola inclusiva, em que o aluno que tem pais em casa, cultos, com posses e vigilantes se senta ao lado do que acorda, diariamente, numa «vidinha pequena» que é a da sua família e conhecidos e que muito beneficiaria de uma escola que lhe alargasse os horizontes?

Quanto os lábios finos...se o problema fosse esse, o botox resolvia ;)). A questão é que à frieza dos lábios correspondia um olhar pateticamente intransigente, que me causava urticária. Mesmo quando tinha razão.
Todavia, admito: não se deve julgar as pessoas pelas suas características pessoais. Risque-se da acta.

antuérpia disse...

Ah...e tu estás a querer comparar--te com ela? Só agora percebi. Tu não estás bem!! E tu não treinas o teu sorriso maravilhoso, que isso não tem ensaio possível :))).