A crise. A crise. A crise. Anunciada, reanunciada, re-reanunciada. A sua cura, acreditamos por ora pelo menos (e não se diga mais nada), virá sob a forma de medidas de austeridade, traduzidas em leis que, na sua vigência, hão-de transformar-se em factos, fincando-se na pele, na nossa, na dos que nos são queridos e próximos, dos vizinhos, dos conhecidos. Por arrastamento, poderão transmutar-se num medo generalizado e indizível do presente e do futuro.
Esse conceito de medo tem uma formulação tão exacta no livro da Hannah Arend, " A Promessa da Política" (ainda que não direccionada ali para o medo económico, mas para o medo na autocracia, registe-se) que, quando a reli há pouco, corri para este cantinho citá-la, não me vá esquecer da razão pela qual deve ser combatido com todas as nossas forças.
Escrevia então, Arendt: «Politicamente falando, o medo (e não estou a falar da ansiedade) é o desespero decorrente da minha impotência quando toquei os limites dentro dos quais a acção é possível (...)".
Portugal não pode deixar que o medo o torne impotente perante a crise, o paralise, como suspeito que possa acontecer. Só seremos grandes na crise se, como dizia Churchill em plena 2ª Guerra Mundial, mantivermos a calma e seguirmos em frente ("Keep calm and carry on").
O que vale por dizer que devemos usar o bom senso (à atenção do Governo, mas também à de todos nós) para não nos deixarmos tocar os limites em que a acção é ainda possível, e proporcionarmos aos que se encontrem prestes a tocar esses limites, condições de também eles manterem possível a acção.
Sem comentários:
Enviar um comentário